Jornada artístico-poética reforçou pedido de justiça internacional por Marielle. Polícia está há 3 anos investigando
No marco de três anos do assassinato da vereadora carioca Marielle Franco (PSOL, este foi mais um 14 de março de homenagem na cidade de Buenos Aires à parlamentar, vítima – ao que tudo indica, embora as autoridades policiais ainda não tenham oferecido respostas – de crime político e racista, em 2018.
Convocado pelo coletivo Passarinho, integrado por militantes brasileiros de esquerda em Buenos Aires, o ato reuniu mais de 20 organizações sociais argentinas, além de partidos políticos e do sindicato dos Trabalhadores do Metrô (AGTSyP), que viabilizou pelo terceiro ano seguido a troca simbólica da placa da estação Rio de Janeiro por Marielle Franco, no bairro de Caballito.
Nome da estação Rio de Janeiro do metrô de Buenos Aires foi trocada simbolicamente neste domingo. / Juliano Mazzuchini/Coletivo Passarinho
Com o lema «Yo soy porque nosotras somos», a mobilização reacendeu a frase que Marielle costumava dizer – «Eu sou porque nós somos». «Três anos. Três anos e ninguém sabe, ninguém viu, ninguém quer falar», denunciou a cantora Shirlene Oliveira em sua apresentação, após interpretar a canção «Desabafo».
«É que tem muita gente envolvida. Gente branca. Gente rica. Gente da política. Toda a familícia», disse, marcando batidas com o bombo.
Cartaz para Marielle elaborado pela gráfica do Movimento de Trabalhadores Desocupados, em Buenos Aires. / Julia Mottura/Resumen Latinoamericano
O núcleo de Buenos Aires do grupo Nzinga de capoeira Angola, fundado em São Paulo, abriu o evento, com uma ladainha composta pela mestra Janja, de Salvador, em homenagem à Marielle.
A ativista afrouruguaia Sandra Chagas realizou a leitura de um documento em nome da Coluna Antirracista, relembrando um caso ocorrido em Buenos Aires, em 1996, quando a polícia assassinou seu amigo, José Delfín Acosta Martínez.
«O racismo sistêmico estrutural e institucional leva a vida de nossos jovens ativistas, que sempre buscam melhorias para sua comunidade negra», leu Sandra. «Neste caso, o Estado também é responsável. Vidas negras importam!»
Outras composições, textos e obras dedicadas à vereadora carioca conformaram o evento em Buenos Aires. O grupo de candombe Les Furió cantou uma canção para Marielle, a muralista Mutante Robin fez intervenções no espaço público com gravuras e o grupo Frente Cultural Che Adelita recitou uma carta que escreveram para Marielle, interpretada pela atriz Eliana Wassermann, integrante do grupo.
«Você, Marielle, como Berta, como Rosa, lutadoras que, até seu último suspiro, viveram a vida em busca de um mundo mais justo, sem exploração, combatendo ao grande filho do patriarcado: o capitalismo. Vocês nos guiam à felicidade», diz parte da carta.
A homenagem e o pedido de justiça internacional é um ato importante para reforçar o legado de Marielle Franco, como afirmou a jornalista e ativista afrobrasileira Francilene Martins, presente no ato em Buenos Aires, onde mora. «Esse feminicídio atravessa a todas as mulheres na América Latina. Marielle deixou um legado de luta, de direitos humanos, pela moradia, por questões educacionais», aponta.
O movimento migrante também integrou a jornada. Carla Montero, membro do Ni Una Migrante Menos, ressalta a importância de ocupar as ruas com estas reivindicações. «É importante continuar ocupando o espaço público para visibilizar que continuamos, depois de 3 anos, com um avanço judicial nulo. Nós, como companheires, migrantes em Buenos Aires resistimos e também exigimos justiça por Marielle.»
Placa permanente no metrô de Buenos Aires
Na última quinta-feira (11), foi aprovado o projeto de lei que estabelece a instalação de uma placa comemorativa à Marielle Franco na estação de metrô Rio de Janeiro. Projeto impulsionado pela deputada Maria Bielli (Frente de Todos), a placa será inaugurada após a reabertura da estação, atualmente fechada pela pandemia do coronavírus.
Placa que será instalada na estação de metrô Rio de Janeiro, no bairro de Caballito. / Divulgação
O texto aprovado após negociações com os parlamentares, maioria direitista, não menciona Marielle como mulher negra nem sua luta antirracista. Contudo, os movimentos sociais comemoram a conquista como um passo para visibilizar a questão do racismo no país, debate ainda embrionário na Argentina. A placa será acompanhada de um QR Code com maiores informações sobre Marielle Franco.
A deputada Maria Bielli também esteve presente no ato por Marielle Franco em Caballito, neste domingo.
Jornada de março por Marielle
O ato acompanha uma extensa agenda armada entre todas as organizações sociais em Buenos Aires em memória de Marielle Franco. O filme «Sementes – Mulheres pretas no poder» foi exibido na favela Villa 31, na cidade de Buenos Aires, na noite do dia 13. O filme também foi exibido na televisão pública nacional Canal Encuentro, na noite do dia 14.
Na tarde desta segunda-feira (15), um ato em homenagem à vereadora também acontecerá no centro educacional que leva o nome de Marielle Franco, em Lomas de Zamora, na província de Buenos Aires. A agenda completa pode ser consultada neste link.
Fuente: BrasilDoFato